sexta-feira, 15 de maio de 2015

Como a inovação cresce na pobreza

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As economias emergentes são ótimo espaço para a adoção de novas tecnologias, como o drone de entregas da Amazon que deve ser lançado na Índia e os aplicativos médicos e financeiros. Mas, dado o primeiro passo, os países em desenvolvimento não conseguem espalhar e manter os avanços


Raquel Beer - Veja DESENVOLVIMENTO

FILHOS DA ADVERSIDADE



Divulgação


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O lançamento na Índia, e não nos Estados Unidos, do drone para a entrega de pacotes da Amazon é uma decisão tomada por precisão e não por boniteza, como diria o Diadorim de Guimarães Rosa. A agência civil de aviação americana barrou os voos dos pequenos aparelhos não tripulados a serviço da distribuição da empresa de Jeff Bezos.

A inexistência de regulamentação indiana, a precariedade da malha rodoviária (apesar de razoável rede de ferrovias) e a força da operação da Amazon naquele país (em julho, foram anunciados investimentos de 2 bilhões de dólares) facilitaram a transferência da operação para o Oriente, onde produtos com menos de 2 quilos serão levados a travessias que não ultrapassem duas ou três horas.

Os primeiros testes devem ocorreram em outubro, em Mumbai e Bangalore. As economias emergentes são o caldo de cultura propício para a adoção de novíssimas tecnologias. Disse a VEJA Andreas Raptopoulos, engenheiro de origem grega, CEO da Matternet, uma startup do Vale do Silício especializada em drones: "As invenções de ponta nascem nas nações desenvolvidas, mas nos lugares mais pobres conquistam espaço onde há vácuo, especialmente nos serviços de saúde, no transporte público e no sistema financeiro".

Estudos do Banco Mundial indicam, contudo, que a expansão de invenções precisa ser rápida - se ela for lenta, as dificuldades terminam por esmagar o tom novidadeiro. Não por acaso, afoito por resultados imediatos, o Google tem acelerado seu projeto Loon, de distribuição de internet, por meio de balões, em regiões do planeta desconectadas, oferecendo redes mais velozes que o 3G. Um desses balões passou recentemente no Piauí, estado onde apenas 27% das residências têm acesso à internet.

Numa experiência que produziu ondas de interesse no agreste paupérrimo, os alunos de uma escola municipal da cidade de Campo Maior puderam assistir à sua primeira aula conectada à web. Não é muito difícil saber em que regiões do planeta a ideia de balões do Google deve prosperar.

Um relatório divulgado pela ONU em maio deste ano mostrou que 60% da população mundial ainda não temacesso à internet. Nos países industrializados, a taxa de pessoas plugadas chega a quase 80%. Entre as nações em desenvolvimento, o número cai para 32%. A África apresenta o pior índice, com apenas dois entre dez africanos com acesso à internet.




DivulgaçãoO drone da Amazon: proibido nos Estados Unidos estreou na Índia

Evidentemente, a tecnologia que viceja em países africanos não consegue esconder a vergonha da misériae da inépcia, alimentadas por ditaduras sanguinárias. Mas não há como fechar os olhos para esse fascinante subproduto da pobreza - nem sempre, ressalte-se, os benefícios são transformados em melhores condições de vida, e invariavelmente acabam funcionando apenas como laboratório de testes. É, de qualquer modo, um dado extraordinário de nosso tempo.

Na semana passada, a Apple lançou um sistema de pagamento sem fio destinado a enterrar todos os seus antecessores. Há sete anos, no Quênia, a precariedade dos bancos fez nascer uma iniciativa semelhante e bem-sucedida. A Safaricom, a maior empresa de telefonia móvel do país, operada pela inglesa Vodafone, lançou um sistema chamado M-Pesa ("dinheiro móvel" em suaíli, uma das línguas oficiais do país). Usuários cadastrados podem transferir quantias a outras pessoas em uma operação tão simples como enviar mensagens de texto.

Hoje, 43% dos 40 bilhões de dólares que configuram o PIB do país circulam por esse sistema. Foi a engenhosa solução encontrada, filha da adversidade, para resolver uma equação: apenas 40% dos quenianos têm contas bancárias, e, no entanto, 93% possuem celulares.

Na saúde, deu-se um fenômeno semelhante. Na África, metade dos moradores tem de andar 10 quilômetros para encontrar água potável e 8 quilômetros para chegar a um centro médico. A saída foi o uso de celulares, mesmo os mais precários, em programas de saúde. São iniciativas que auxiliam na prevenção e no diagnóstico.

Um levantamento do grupo francês de telefonia Orange mostra que um serviço de prevenção e conscientização para mulheres grávidas em Mali fez o número de mortes ligadas à gestação cair 30%. Em Botsuana, outra iniciativa do tipo foi responsável por diminuir de quatro semanas para três minutos o tempo de resposta do governo a crises de malária. Segundo o levantamento, os programas de saúde em dispositivos móveis têm potencial para salvar 1 milhão de vidas na África Subsaariana nos próximos cinco anos. O novo se alimenta da precariedade.

O RITMO DA GLOBALIZAÇÃO TECNOLÓGICA
O gráfico abaixo mostra o tempo necessário (em anos) para algumas tecnologias chegarem a 80% da população mundial. Antes era preciso até mais de um século para as inovações conquistarem o planeta - hoje o ritmo de adesão total é muito mais veloz. A rapidez é resultado da facilidade com que as invenções entram nos países em desenvolvimento tão logo são anunciadas

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